3.4.09

GORDURINHAS

GORDURINHAS










GOSTO MUITO DA FERNANDA YOUNG...


Enfim, consegui localizar você – pensou que ia escapar de mim? Você se esconde atrás dessa fofura inocente, mas notei que alguém andava distorcendo minha imagem pelas costas e resolvi ficar de olho. Todo mundo que vê você em algum lugar, ou é apresentado a você de alguma maneira, acaba com uma opinião ruim a meu respeito. Coisa feia, Gordurinha.Para começar, se não fosse eu, você nem existiria. Eu a alimento, levo-a para viajar, cubro você com as melhores roupas. Pago uma massagista especialmente para você duas vezes por semana. Compro cremes para você no exterior. Quer chamar a atenção? Quer aparecer sozinha? Então, por gentileza, suma da minha presença. Chega de me encher com o seu exagerado exibicionismo. Você cansa a minha beleza.
Saiba que eu sou muito maior que você e já venci detratores imensamente piores. Parto para a faca se for necessário. Isso é uma ameaça? Sim, é. Você está na minha lista negra a partir de hoje. E, se insistir em me atrapalhar, eu simplesmente contrato alguém para acabar com você.
Lembra daquele seu amiguinho francês, o Culote? Sabe por que ele de repente desapareceu de circulação? Pergunte a ele o que significa ter uma pessoa como eu como inimiga.
Ou você toma jeito e descobre o próprio espaço, deixando de interferir na minha vida, ou vai lamentar o dia em que se meteu comigo. Sei tudo sobre você, esqueceu? Que você veio do interior no lombo de um boi e acabou atração de churrascaria. Que freqüentou os piores lugares antes de começar a ser vista comigo. Que esteve envolvida no Escândalo dos Pneuzinhos, escapando por pouco da “limpa” que se seguiu
.
Vou queimar você de todas as maneiras, pode se preparar. Conheço bem a sua região e vou atrás das suas verdadeiras origens, onde elas estiverem. Quero ver você suando na frente do espelho.
Sempre desconfiei de você, sabia? Uma coisa de pele. Mas eu era muito jovem para entender os perigos de sua companhia. Essa sua mania de grudar nas pessoas e ficar em volta delas sugando as suas energias. Esse seu jeitinho meigo, de quem não quer incomodar, mas não tem onde ficar – bem coisa de mulherzinha.

Amigas minhas já haviam passado por problemas com você, tendo que eliminá-la. Contaram-me do caso de uma mulher que conhecia você das festinhas de aniversário das crianças e depois pegou você e o marido se esfregando na cama. Eu demorei para perceber a sua face ingrata.
Gordurinha, é o seguinte: quero que você vá embora daí, desse lugar, o mais rápido possível. Ele é meu, herdado da minha família, e não vou deixá-lo à mercê de seus maus-tratos e excessos. Dou um mês para você providenciar a mudança, porque sei que tenho um pouco de culpa de você ter se alojado aí tão folgadamente. Mas agora acabou a boa vida.
Sinceramente,Fernanda Young






PARA O PEQUENOM PRINCIPE.

Nossa, há quanto tempo... Como vão as coisas no seu pequeno planeta? Aqui, no meu, andam imensamente estranhas – muito baobá para pouca flor, se é que você entende meus simbolismos.
Quem sempre fala de você é aquela ex-miss que vivia chorando por sua causa, lembra? Ela me contou da sua amizade com a Raposa.
Príncipe, como você é meu amigo de infância, não posso deixar de alertá-lo. Cuidado com a Raposa. Ela parece uma coisa, mas é outra. Faz-se de fofa e é uma cobra, uma chantagista.
Quando a conheci, ela disse que não podia conversar comigo, pois não sabia quem eu era. “A gente s conhece bem as coisas que cativou”, ela falou, toda insinuante.
Respondi que, se nós duas nos cativássemos, ela ficaria triste quando eu fosse embora. Foi quando saquei que ela queria ter um cacho comigo, pois a Raposa pegou no meu cabelo – eu estava loira na época – e disse que tudo bem, porque ela olharia os campos de trigo e se lembraria de mim.
Marcamos um encontro para o dia seguinte, às 4. E ela me pediu para chegar às 4 em ponto, dessa forma ela ficaria feliz desde as 3 somente por esperar o momento do nosso encontro. Achei estranho, mas pensei que fosse charme. Não era.
Cheguei 15 minutos atrasada e a Raposa surtou. Falou que nós somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos. E perguntou para mim, olhando diretamente nos meus olhos, se eu tinha consciência de que “perder tempo” com o outro é o que faz essa história importante. Percebeu o tom de chantagem? Ela joga na cara tudo o que faz em nome do outro. Ela deseja afeto, mas o quer como uma responsabilidade de mão única. Porém, também somos responsáveis quando nos deixamos cativar – relacionamentos são vias de mão dupla.
A Raposa exige a certeza de um compromisso com hora marcada, impondo regras à troca afetiva. As regras dela, claro, já que ela quer todo o afeto a favor de seu bem-estar. Chega a ponto de dizer que será feliz porque você virá. Como se a felicidade fosse algo condicionado ao outro, à espera do outro, ao encontro com o outro.
Veja que coisa infantil. São as crianças que precisam de horários certinhos e de associar suas emoções às pessoas com quem se relacionam. Sentindo prazer ou desprazer diante da ausência ou presença da mãe ou do pai ou de quem quer que seja. Na criança, ainda não há um universo interior, entendeu? Quando nós crescemos, temos de conseguir ver o mundo através das próprias perspectivas. Enxergar a beleza de um trigal sem nos lembrar de ninguém.
A Raposa, como uma criança assustada, quer que aqueles que a amam estejam com ela na hora em que ela deseja. Achando que eles são “responsáveis” pela felicidade dela. Ou seja, o outro lhe deve algo por tê-la cativado.
Desde esse dia, não falo mais com ela. E aconselho você a fazer o mesmo. Ela não é flor que se cheire.Saudades distantes,Fernanda Young
O universo é cheio de paralelos onde vagamos por entrelinhas. Corremos atrás de verdade apenas por sermos sados-masoquistas. Vemos a realidade atreves de uma vitrine. Consolamos-nos na caixa de lápis de cor. Criamos castelos de arei para sermos felizes. Admiremos as borboletas elas só vivem vinte e quatro horas. Pegamos cometa para ir para outro planeta. Choramos quando a mocinha morre. Rimos com o cara descolado. Falamos mal da vilã. Tentamos ser igual à capa da revista. Somos fúteis, egoístas, somos sempre pré-julgados. Sempre escolhemos o caminho mais longo, só pra não perder a graça de reclamar."







Sem comentários:

NeoCounter